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O Mal do Século

O cérebro nem está raciocinando direito e o companheiro já está na mão.
Clica a cara de sono, clica o céu nublado, clica o café reforçado, pausa, a maquiagem precisa ser retocada.
Clica o resultado final, clica a roupa do dia, clica o caminho até o trabalho, pausa, o chefe está passando.
Clica a cada de tédio, clica a hora que não passa, clica o caminho de volta, pausa, precisa se trocar.
Faz pose no espelho da academia, faz vídeo do seu treino diário, mostra seu suor escorrendo. Canta no carro sua música favorita. 

Liga a TV e fica, sozinha. Se concentrando nos fantasmas internos por um minuto. Fecha os olhos, chora, grita, paralisa. 

"E esse sono que não chega?! Cadê meu celular? Preciso escrever que sofro de insônia. "

J.D. 
(26/04/2017)

Cria, cuida, educa, descansa e logo volta à rotina. Nasceu para servir: seu marido, seus filhos, seus netos, seus bisnetos, seus cachorros, seu papagaio.
Deita no sofá, dorme, sonha. Numa paz que nunca sentiu se encontra no mundo imaginário.
Volta pra sua realidade e vê que é hora do jantar. Cozinha, frita, tempera, serve. Esquece da paz, esquece do silêncio, esquece de si mesma.
Noites mal dormidas, joelho que quase não se aguenta em pé mas o sorriso a entrega, essa é a vida que ela sempre quis levar.
Anos se passam e cada um vai pro seu lado.
Maus tratos, xingamento, elevação de voz e percebe: perdeu até o direito da sua vida.
Esqueceram dos cuidados, esqueceram das noites mal dormidas, do carinho que foi dado, da vida que foi dedicada.
Como um fardo ela é levada, e desejando toda noite, poder enfim, descansar em paz.

J.D.
(04/05/2016)

Tragetória

Hora da Saída

A turma que chega fazendo bagunça não para um minuto. Se penduram nos ferros, saem correndo pelo vagão, apostam corrida com a porta e até tiram a bola da bolsa para perturbar os outros passageiros.
Xingando entre si os olhos vão percorrendo o vagão e a reação de cada passageiro. Um em especial, com olhar fixo e sorriso frouxo deixa transparecer certa empatia pelos garotos.

Perto da sua estação concentra em um menino em especial. Franzino, de óculos, por volta dos 12 anos. Abre ainda mais o sorriso e sai.
O garoto assustado não deixa de comentar com os amigos: EITA PORRA. O VELHO É VIADO.

J.D.
17/05/2017

Na Mira da Mina:

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